quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Algumas histórias do arco e flecha brasileiro - por Marcelo Roriz

"Algumas histórias do arco e flecha brasileiro"

Peço licença a cada um que recebe esta carta para contar um pouco de como enxerguei, vivi e viverei essa paixão chamada Arco e Flecha.

Ser um atleta era um grande sonho. Agradeço ao arco por ter me possibilitado realizar e vivenciar esse sonho, conquistando títulos e batendo marcas que nem nos maiores dos meus sonhos esperava atingir.

A paixão que nutro por esse esporte, divido com inúmeros amigos que fiz nesses últimos anos. Ao arco tenho que agradecer, além das realizações esportivas, pelas belas e, espero, eternas amizades que ele me proporcionou.

A vida para mim é como um trem. Esse trem de nossa vida sai de uma estação quando ainda somos bebês para uma estrada de trilhos sem volta . Nesse trem só existe a partida. E durante essa longa viagem da nossa vida, o trem vai parando em inúmeras estações, algumas pessoas entram, outras saem, e o trem da nossa vida segue seu rumo. Tem pessoas por quem choramos nas despedidas, tem pessoas que realmente queremos que desçam do trem, e tem coisas e pessoas que seguem a eterna viagem juntos. Assim é o Arco, ele entrou no trem da minha vida para não descer em nenhuma estação. Então, exatamente por amar esse esporte, me dou o direito de escrever estas linhas.

Essa arte que nos une é um instrumento fantástico e preciso de verificação dos limites humanos. Acertar flechas perfeitas em alvos distantes é conseguir fazer do arco extensão de nossos braços e mãos para conseguirmos chegar aos grandes objetivos da vida.

Ultimamente, um desses grandes objetivos foi ter o orgulho de ser um atleta de ponta e poder representar meu país em competições internacionais. Foi poder lutar para conquistar uma vaga, chegar no exterior, poder bater no peito e dizer: ”- Serei eu que terei a enorme responsabilidade de carregar arcos e flechas de inúmeros brasileiros aqui nessa terra estranha. Farei o meu melhor...”

Porém, de algum tempo para cá, esse orgulho vem sendo machucado. O atirar bem e conquistar não vem sendo suficiente para me trazer a alegria de estar envolvido no esporte. Quando conheci o arco mais profundamente, infelizmente me deparei com uma estrutura burocrática e com situações que se espera talvez encontrar na política ou em tribunais, mas jamais no esporte.

Cheguei ao tema principal do meu texto. O título “Algumas histórias do arco e flecha brasileiro” é a síntese de inúmeros acontecimentos que machucam aqueles que amam essa arte, que alguns chamam de esporte e vice-versa. São histórias de alegrias e tristezas. São histórias que alguns irão lamentar, histórias que muitos vão perguntar incrédulos: “Não acredito que isso aconteça no esporte?”

Sinceramente, estou até com dificuldades por onde começar. Começar já dizendo de tantos erros daqueles que coordenam o esporte no país pode parecer que esta carta é um ataque. Tentarei aqui traduzir em palavras, o sentimento engasgado de vários atletas que abrem mão de inúmeras coisas pelo simples e grande sonho de ser atleta. Então, a primeira das histórias será a de uma vitória e suas conseqüências.

O que vocês arqueiros ou envolvidos no esporte acham da marca de 1.401 pontos? Muito boa? Pois é, eu também a achava grandiosa, inalcançável, mas como diz o ditado “não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez”. Isto mesmo, eu, aquele goiano, que teve suas primeiras aulas com o amigo Henrique Junqueira, consegui quebrar a mítica barreira dos 1.400 pontos. Um dia inesquecível, um feito inimaginável, um sonho realizado. Fui o segundo arqueiro brasileiro, até porque o nosso maior campeão Roberval dos Santos , o Tico, merecia ser o primeiro e repetiu inúmeras vezes a marca. Fui o segundo arqueiro sulamericano a atingir tal feito. Quantos atletas por seus grandes feitos receberam reconhecimento. Pois é, este atleta que agora escreve, não recebeu nenhuma menção por parte dos dirigentes do esporte no país, não estou falando de placas comemorativas, nem ao menos de citações no site da entidade, mas nem um singelo parabéns. 1400 não acontecem todos os dias... Valorizem o esporte e, principalmente os esportistas.

Esse é um dos capítulos pessoais das histórias. Mas quero ampliar o horizonte. Vamos falar um pouco de esporte.

A Confederação Brasileira de Tiro com Arco (CBTARCO) como agente promotora do esporte no país deve exaustivamente trabalhar com um projeto de esporte que valorize o atleta na linha de tiro. Cada flecha disparada por um brasileiro é um lançamento de uma esperança de vitória para o país. Assim, a CBTARCO como entidade líder das designações e caminhos para o Tiro com Arco no Brasil deveria tomar decisões visando o bem do esporte nacional. Os líderes de um grupo são designados e alcançam essa posição porque outros confiam na sua capacidade de guiar seus liderados. Isso também significa que o líder deve sentar com seus liderados e escutá-los. O grande líder é aquele que tem o grupo em suas mãos, para que os liderados sigam suas ordens, sem questionar, apenas por acreditar que o desejo do líder é o melhor para todos.

E, ultimamente, a CBTARCO parece não preocupar-se tanto com a questão esportiva... O orgulho de nossos atletas em representar o país vem sendo perdido, por atitudes erradas, impensadas e parciais por parte da direção da entidade.

Exemplos disso:

- Atletas há algum tempo já não mais recebem subsídios financeiros para continuar investindo em seus treinos, viagens para competições, etc. Nem mesmo equipamentos, que era uma prática da Confederação, vem sendo repassados para os atletas terem um melhor desempenho. Por outro lado, Federações estaduais por meio de presidentes com pouca ou nenhuma história no esporte, vem recebendo regularmente “ajudas / salários” que chegam a R$ 2.000,00 mensais sem grandes contribuições para o crescimento do esporte no país. Deixem o dinheiro dar frutos, deixem o dinheiro na mão de quem produz, não alimentem essas burocracias que não atiram flechas. Invistam nos atletas.

- Atletas convocados para a principal competição do esporte no mundo, o Campeonato Mundial, até dez dias antes da competição não tinham confirmadas suas passagens e não tinham a garantia de que iriam viajar para a Coreia do Sul. Se há dez dias da competição não sabíamos se íamos viajar ou não, qual era a nossa motivação em treinar? Que atleta teria tanto foco para simplesmente se desligar desses problemas?

- Há exatamente um ano, eu fui um dos atletas que ainda acreditavam na condução do esporte, inclusive, como parte dessa contribuição, me tornei membro do Conselho Fiscal da atual diretoria. Porém, oito meses depois mandei a seguinte carta comunicando minha renúncia:

Prezados Vicente e Rubens,



com felicidade há quase 8 meses atrás aceitei o convite para ser membro do Conselho Fiscal da CBTARCO.

Hoje, infelizmente, venho pedir renúncia do cargo a mim conferido.



A CBTARCO vem passando por um processo político-administrat ivo conturbado. Minha vontade nesse tempo foi ajudar, mas não posso compatibilizar com o fato ocorrido esta semana com a não ida do Tico para a etapa da Copa do Mundo na China . Uma observação importante: o Tico não tem nada a ver com essa carta, nem falei nada com ele. Independente de Tico, Marcelo, João, Antonio, etc., quem quer que seja, o motivo foi que um atleta de altíssimo nível teve podado seus sonhos e uma chance de estar novamente em uma final de World Cup por algum problema da CBTARCO.

Com certeza a Confederação tem uma justificativa para a não ida dele e, também tenho a certeza, de que essa não era a vontade da direção da entidade. Mas independente do motivo, a CBTARCO tem que lutar por aquilo que é mais importante a ela: um atleta na linha de tiro!



Desde que iniciei nesse esporte amo aquilo que faço e tenho um prazer imenso em disparar flechas rumo a grandes alvos e objetivos. E quero assim continuar... Essa foi minha primeira tentativa de me envolver politicamente na tentativa de condução e colaboração para o esporte no país, mas, infelizmente, por problemas fora do meu alcance as coisas não se encaminharam como eu gostaria. E quando um atleta, como o Tico, é prejudicado, me deixa triste saber que chegamos a esse nível no país. Até porque o atleta foi convocado, inscrito, uma expectativa foi gerada e nada foi realizado, o sonho foi podado...



Dado os problemas que a CBTARCO teve na gestão passada, sei que o preço está sendo pago nesse momento, mas nem por isso um projeto para o esporte no país pode ser deixado de lado e ações efetivas como a estada de um atleta em uma competição internacional não podem deixar de acontecer.



Além disso, como membro do Conselho Fiscal algumas promessas como a publicação e envio mensal das contas da CBTARCO para análise do Conselho não aconteceram e isso impede que eu realize qualquer trabalho ou contribuição.



Diante desses motivos, prefiro focar naquilo que mais gosto de fazer que é atirar flechas renunciando ao cargo a mim outorgado



Sei que aqui coloco inclusive minha carreira esportiva em risco, mas não posso omitir em expor aquilo que penso e, principalmente, sinto.



Vitória ao Arco e flecha brasileiro!



São Paulo, 01 de agosto de 2009.



Marcelo de Campos Roriz Júnior

Atleta e amante do arco e flecha





A presente carta foi recebida e nem respondida pelos senhores diretores. Apenas uma pequena menção em um e-mail foi feita pelo senhor Eros Fauni, diretor técnico da entidade.

Saindo das questões administrativas, cabe falar que muitos atletas estão desanimando com os rumos que o esporte vem tomando. O orgulho da camisa da Seleção Brasileira parece não mais existir. A grande mudança ocorrida nos últimos tempos, é que alguns atletas pararam de engolir determinações e passaram a questioná-las. O debate de ideias incomoda. Atletas já não acreditam em seus líderes, atletas estão sem técnico e sem rumos. O que me preocupa, é que a maior chance do arco e flecha brasileiro vem aí: Olimpíadas no Rio de Janeiro em 2016. Investimentos como nunca vistos serão feitos, não podemos perder a chance histórica de mudar, de uma vez por todas, os rumos do Arco e flecha no Brasil escrevendo páginas que serão lembradas eternamente.

Sobre o projeto do Arco e flecha nas Olímpiadas do Rio, a utilização do Sambódromo - Marquês de Sapucaí como previsto no Programa Olímpico da cidade do Rio de Janeiro, certamente dará grande visibilidade ao esporte. Mas assim como nos Jogos Panamericanos de 2007, perderemos a maior oportunidade que o Brasil terá de ter um Estádio de Arco e Flecha no país e o legado olímpico ser maior.

O que teremos depois de 2016? Algumas promessas foram feitas a atletas do arco recurvo em reunião em Maricá, mas ainda vinculadas às disponibilidades de verbas. Querem colocar atletas no Centro de Treinamento em Maricá; mas além de Arco e Flecha, o que aquele local pode oferecer? Que bom seria se o Centro de Treinamento estivesse em uma cidade onde tivéssemos excelentes faculdades para que nossos jovens atletas pudessem conciliar estudos com a prática esportiva, assim como em todos os países onde o esporte dá certo. Não precisamos falar dos Estados Unidos não. Conheci os atletas olímpicos mexicanos e eles vêm recebendo apoio incondicional para conseguirem bons resultados, assim, uma atleta mexicana venceu o Round Fita no Campeonato Mundial e um arqueiro foi 4º colocado nos Jogos Olímpicos de Pequim.

Dentre alguns dos inúmeros problemas na condução das políticas esportivas do arco e flecha brasileiro, a crítica à CBTARCO é pela falta de comunicação por parte Confederação com os atletas e público no Brasil. Um resultado de Campeonato Brasileiro jamais pode demorar quase 1 mês para ser publicado.

Os envolvidos no esporte no país, sempre reclamam que o arco não tem nenhuma visibilidade, mas quuais as atitudes da CBTARCO, como ter uma assessoria de imprensa atuante, para que divulguem o esporte?

Nove atletas representaram o país em um Campeonato Mundial e nenhuma nota em nenhum site (nem mesmo no da Confederação, que pelo menos agora foi revigorado), jornal, rádio ou televisão foi divulgada. Sei que nossos resultados lá não foram tão dignos de louvores, mas a ida de uma equipe para um Campeonato daquela magnitude merece sim destaque ou pelo menos atitudes para mostrar o esporte para o país.

Se a Confederação não criar um canal de comunicação junto à mídia sempre teremos essa "eterna" desculpa no Brasil - "nosso esporte não é divulgado, não tem espaço na mídia, etc.".

A oportunidade está aí. Na verdade o que falta é um projeto de esporte! Falta pensar grande!

Por que a República Dominicana foi sede de etapas da Copa do Mundo durante quatro anos e o Brasil nem sequer cogitou uma candidatura? Disseram que custava US$ 150.000,00, se for só isso é muito pouco! Faça uma final na Praia de Copacabana? Esplanada dos Ministérios? Parque Ibirapuera? Av. Paulista? E veja a mudança que teríamos com a visibilidade do esporte no país. E na República Dominicana, sede do Jogos Panamericanos em 2003, foi construído um espaço perfeito e exclusivo para a prática do Tiro com Arco. Daquele Pan o Arco e Flecha dominicano recebeu um grande legado.

O skate não tinha tanta visibilidade, então inventaram o evento "Mega Rampa" e todo ano tem inúmeras reportagens na Globo, transmissões ao vivo no Esporte Espetacular divulgando o esporte e patrocinadores. As travessias aquáticas eram geralmente disputadas por poucos atletas. Inventaram a "Travessia dos Fortes" no Rio de Janeiro - Praia de Copacabana, todo ano a Globo transmite o evento ao vivo no Esporte Espetacular para o país inteiro. Golfe passa o dia inteiro na ESPN, até campeonato de Sinuca e Poker são transmitidos.

Se o Arco não sair dos Mário Covas, Maricás, Mineirinhos, Goiás, Bento Gonçalves, etc., e não for para perto do público a história continuará se repetindo.

Faça uma assessoria profissional, atualizada, que o esporte será sim notícia. Jornalistas adoram receber pautas prontas.

Por que não podemos ter uma expressão maior? Se o arco não abrir a boca para a mídia, ficará sempre nesse ostracismo irritante! Um atleta como o Tico, que faz parte da nata do esporte mundial, extremamente respeitado no exterior é um ilustre desconhecido no Brasil. Alguma coisa está errada?

Aliás, o Tico, esse é um exemplo de amor ao esporte. Uma pessoa que dedicou uma vida a essa arte. Um atleta que por méritos próprios chegou a lugares antes nunca pisados por um brasileiro. Levou a bandeira brasileira ao lugar mais alto do pódio em um evento mundial. Estive com ele em alguns eventos no exterior e é impressionante o tanto de pessoas que o cumprimentam, conversam e o admiram. Esse mesmo atleta, vencedor de etapa de Copa do Mundo, 3º melhor arqueiro do mundo em 2007, não tem grande parte de seus méritos e conquistas valorizados ou, no mínimo, respeitados.

Temos que ouvir de dirigentes que Copa do Mundo não vale nada. Quantas vezes tivemos que ouvir por parte dos dirigentes que o que vale para o arco e flecha são medalhas no Sulamericano e Campeonato das Américas. Sabem porque essas medalhas que são importantes, são elas que trazem divisas para a CBTARCO. Concordo que devemos ir com força máxima para essas competições mesmo, pois é dali que tiraremos o leite que nutrirá o esporte, mas esse alimento deve ser direcionado aos atletas. Desmerecer um evento como a consolidada World Cup, que mudou os rumos do arco e flecha mundial, exemplo de sucesso exaltado pela FITA, é no mínimo triste. Essas etapas de Copa do Mundo elevaram o nível do arco e flecha no Brasil. A média de pontos dos atletas aumentou consideravelmente nos últimos anos, fruto dos intercâmbios e trocas de experiências internacionais. E, ouvir do diretor técnico, Eros Fauni, que Copa do Mundo não vale nada é doloroso. Engraçado, que esse mesmo diretor, quando o Tico foi para as finais em Dubai 2007 pagou, do próprio bolso, suas despesas pessoais para estar junto ao atleta naquele momento fantástico e único para o esporte no país. Então, senhores, Copa do Mundo tem valor! E nossa vizinha Venezuela conquistou o título. Aliás, a história da Venezuela é um grande exemplo de como podemos conquistar alguma coisa, basicamente eles investiram em técnico e atletas, simples assim. A receita é a mesma. Invistam nos atletas e colham frutos. Invista em burocracias e colham derrotas.

Sobre as tão importantes medalhas nos Jogos Sulamericanos, na primeira seletiva em Maricá, dias 28 e 29/11/09, os atletas do arco recurvo foram chamados para uma reunião para a CBTARCO apresentar suas ideias e projeto olímpico para o Tiro com Arco. Dentre os vários assuntos tratados, colocaram a meta de 20 medalhas no esporte nos próximos Jogos Sulamericanos, em março de 2010, na Colômbia. Alguns dos atletas de recurvo, se espantaram com essa notícia: “-20 medalhas?”. Ouviram dos dirigentes que receberiam uma ajuda dos atletas do arco composto para chegar nessa meta. Porém, nenhum atleta de arco composto foi pelo menos convidado a ser ouvinte de tal reunião. Ficamos sabendo disso por ouvir pessoas que lá estavam. Temos que pensar no esporte e não em categorias. Enquanto alguns acham que o Composto divide, teremos esse tipo de situação. Atiramos também flechas no centro, o Composto só tem a somar e, por sinal, nos últimos anos somou excelentes resultados ao Tiro com Arco brasileiro. Parem com essas divisões mesquinhas e sem sentido. O tempo irá curar isto e espero que não demore muito. O México, sede do próximo Pan 2011, já pediu a inclusão da categoria no programa esportivo panamericano (e a direção da CBTARCO apoiou tal indicação com carta enviada). Senão, correremos o risco de um dia chegarmos ao ridículo de ter a Confederação Brasileira de Tiro com Arco RECURVO e a Confederação Brasileira de Tiro com Arco COMPOSTO. A FITA vem trabalhando exaustivamente para inclusão do Composto no programa olímpico. As regras estão sendo modificadas para tornar a categoria diferente do recurvo. No programa paraolímpico o Composto já é modalidade olímpica. Então, se a CBTARCO apóia essa inclusão, se o Composto vem tendo melhores resultados do que o Recurvo nos últimos anos, porque não ter uma reunião do Tiro com Arco e não de categorias.



Voltando e continuando o assunto Copa do Mundo, é sobre as seletivas para a etapa da Croácia da Copa do Mundo 2010 que agora quero falar. No dia 15 de outubro de 2009, o senhor diretor técnico da CBTARCO, Eros Fauni, enviou o documento abaixo sobre as regras de classificação para os Jogos Sulamericanos e World Cup 2010. Segue a transcrição na íntegra do regulamento das seletivas brasileiras:









Maricá, 15 de outubro de 2009.



Regulamento das Seletivas para o Campeonato Sul-americano e World Cup 2010.



Serão realizadas duas provas seletivas sendo uma nos dias 28 e 29 de novembro, e outra nos dias 12 e 13 de dezembro.

Participarão das provas atletas do ranking formado nos meses de julho a outubro, sendo:

Categoria


Combate

Recurvo Feminino 3

Recurvo Masculino 7

Composto Feminino 3

Composto Masculino 7

Além das vagas descritas acima, será convidado um atleta de cada categoria a critério do Diretor Técnico.

O Round FITA será realizado no primeiro dia de competição, sendo as distâncias maiores pela manhã. Após intervalo de 1h30min serão realizadas as distâncias menores sem aquecimento para o segundo período da competição.

Os Rounds Olímpicos serão realizados no segundo dia, no sistema Robin Round. Cada atleta fará disputas com todos os de sua categoria.

No caso das categorias femininas, será dobrada a quantidade de combates.


Cada atleta poderá obter um máximo de 4 pontos de bonificação por combate, sendo 2 pontos pelo o índice, e 2 pontos por vitória, como segue:



Categoria


Combate


Bônus índice


Bônus Vitória

Recurvo Feminino 106 2 2

Recurvo Masculino 106 2 2

Composto Feminino 111 2 2

Composto Masculino 115 2 2

Terão vaga garantida os dois primeiros atletas de cada categoria, sendo a terceira vaga indicada pelo Diretor Técnico, não sendo obrigatoriamente o terceiro colocado das seletivas.



World Cup 2010



Terá vaga garantida o primeiro atleta de cada categoria que obtiver o índice em pelo menos em uma das seletivas. Tal índice será calculado pela soma das pontuações do Round FITA e dos Rounds Olímpicos, acrescidos dos bônus como segue:



Categoria


FITA


Combate


Bônus índice


Total

Recurvo Feminino 1260 106 x 6 2 x 6 1908

Recurvo Masculino 1270 106 x 7 2 x 7 2026

Composto Feminino 1350 111 x 6 2 x 6 2028

Composto Masculino 1370 115 x 7 2 x 7 2189

Exemplo:
Arco composto masculino, (1370 + ((115+2) x 7)) = 2189 pontos.





Isto posto, o que se espera nas seletivas é que as regras assumidas sejam cumpridas. Sobre os critérios de classificação para a World Cup 2010 uma discordância aconteceu. Segundo o diretor técnico, valeria como classificação para a etapa da Copa do Mundo o maior índice estabelecido por um atleta em uma das seletivas, o que não está escrito no regulamento enviado aos atletas. Perguntei a inúmeras pessoas, o que entendiam do texto grifado “Terá vaga garantida o primeiro atleta de cada categoria que obtiver o índice em pelo menos em uma das seletivas”. e todos concordaram que não estava escrito que o maior índice seria o critério de escolha dos representantes brasileiros. Porém, para surpresa daqueles que estavam em Maricá, logo após as disputas das duras seletivas, foi dito que a regra era do maior índice e não o resultado geral das seletivas. Isto significou, na prática o seguinte:

- Na categoria arco composto feminino, a atleta Talita Rodrigues venceu o somatório das seletivas com 4.041 pontos contra 4.016 de Dirma Miranda (25 pontos a mais), porém a atleta Dirma na primeira seletiva fez 2.032 contra 2.029 de Talita, logo a ordem de preferência para ir a Copa do Mundo seria de Dirma Miranda.

- Na categoria arco composto masculino, eu, Marcelo Roriz, terminei a seletiva com 4.406 pontos (parciais de 2.204 e 2.202) contra 4.385 pontos do atleta Cláudio Contrucci (parciais de 2.179 e 2.206), logo a ordem de preferência, segundo a regra do diretor técnico, era de Cláudio Contrucci por ter atingido maior índice. Os 21 pontos que fiz a mais na soma das duas seletivas não tiveram valor.

Se esta regra fosse conhecida e tivesse clara para todos os atletas, com certeza alguns que deixaram de ir à segunda seletiva poderiam rever essa possiblidade já que, apesar de não mais concorrerem para a vaga nos Jogos Sulamericanos, ainda poderiam conquistar uma vaga para a Copa do Mundo. Mas isso não estava claro. O texto não dizia o que o diretor técnico diz. Pode agora, dado que para ele a Copa do Mundo não tem valor, ele simplesmente dizer que não mandará ninguém para a etapa da Croácia por falta de verba ou outra situação qualquer. Mas o que não pode acontecer é o jogo ser disputado sobre uma regra, e, ao final, essa não ser a regra para o resultado. Aprendi, no curso de Direito, um dos mandamentos do advogado que dizia assim: “Se um dia encontrares o direito em conflito com a justiça, lute pela justiça”. Então senhor diretor, o mínimo que se espera é que as regras beneficiem a justiça. E penso eu, que no esporte Tiro com Arco, a maior justiça é o resultado obtido no alvo.

Sobre as seletivas, algumas categorias nem chegaram a ter disputas, pois existiam três vagas e estas foram disputadas por três atletas, só decidindo a ordem das vagas. E atletas que ficaram em casa e tinham totais condições técnicas de estarem na disputa, como se sentiram? Porque não foram convidados (as) a participar da segunda seletiva já que, segundo as regras do diretor técnico, a disputa para a vaga na Copa do Mundo ainda estava em aberto.

Ainda sobre as tão importantes seletivas brasileiras, disputada no Centro de Treinamento em Maricá, se fosse assim tão importante mesmo, teria recebido por parte da organização seu devido valor. As seletivas foram uma conquista dos atletas, pois igualaram as condições e colocaram todos para atirar sob a mesma pressão de resultado, clima, etc. Dado a importância desse evento, ela jamais poderia ser disputada junto com uma simples etapa do Campeonato Carioca como aconteceu na segunda seletiva disputada nos dias 12 e 13/12/2009. Para as pessoas que não estavam lá, isto mesmo, as Seletivas Brasileiras foram disputadas simultaneamente a uma etapa do Campeonato Carioca. Eu, atleta de arco composto, dividi alvo com um atleta de arco recurvo que nem na disputa de seletiva estava. E, detalhe, no primeiro dia do evento (12/12/09), nenhum representante oficial da CBTARCO estava presente no local das disputas.

Falar das condições sob as quais disputamos e atletas ficaram hospedados em Maricá é também importante. Alojamentos extremamente quentes, com muito calor e pernilongos, colchões inadequados (alguns foram agora trocados depois de tantas reclamações) e até banheiros sem tampa no vaso sanitário. Dinheiro para terminar essas obras não existiu, mas presidentes de Federações recebendo R$ 2.000,00 por mês, isso tem! Gastos com assembléias extraordinárias para discussão de problemas administrativos e desvios de verbas, isso tem!

O esvaziamento da segunda seletiva, na qual apenas 10 dos 16 atletas convocados foram disputar, é exatamente o reflexo que se a conduta continuar a mesma, o destino do Tiro com Arco no país não é dos melhores. Quase metade dos atletas deixarem de ir naquela que deveria ser a competição mais desejada é no mínimo estranho. E sabem em quem colocarão a culpa: nos atletas! Será que a culpa é deles? Será que os vultuosos gastos que todos tem para se deslocar até Maricá para se alojar em condições ruins não é um dos problemas? Por que não pagam viagens para atletas ao invés de pagar viagens para presidentes de Federação irem discutir problemas administrativos em assembléias extraordinárias? Nos últimos doze meses, foram realizadas três assembléias extraordinárias na cidade de São Paulo : uma para eleição da nova diretoria e outras duas para discutir os problemas administrativos da gestão anterior (mesma que a atual).

O orgulho de vestir uma camisa do Brasil deve ser o que todo atleta busca. Tocando no assunto da camisa, lembrei-me dos uniformes. Para as últimas competições internacionais os atletas tiveram que se organizar para tentar pelo menos atirar com roupas iguais. Nós atletas tivemos que pagar do nosso próprio bolso para gravar o nome nas blusas para cumprir as regras da Federação Internacional de Tiro com Arco. Desfilamos na abertura do Campeonato Mundial com agasalhos e uniformes diferentes. Assim sendo, a primeira contradição é que a roupa que utilizamos jamais poderia ser chamada de “uniforme”, pois esta palavra nos remete ao significado de igual, semelhante, etc. E, caso os atletas de cada categoria tivessem fardamento diferente, poderiam ser impedidos de atirar. Está nas regras da FITA. Todo o investimento de se levar uma equipe para a Coréia seria desperdício se fossemos impedidos de atirar. Eu gostaria de assistir as justificativas da CBTARCO caso isso acontecesse.

Roupa suja se lava em casa. Mas tem hora que outros precisam saber, talvez esteja na hora da imprensa saber disso. Essa é mais uma tentativa de discutir ideias. Sei que tudo isso que escrevo pode colocar a minha carreira esportiva em jogo. Sei que represálias posso receber, mas minha consciência estará tranquila e meu arco continuará com sua precisão. Apenas tentei relatar que um novo caminho é possível. E esse caminho se chama: VALORIZAÇÃO DO ATLETA. Podem até calar minha voz, mas nunca calarão minhas flechas no alvo, porque na linha de tiro, ainda bem, só depende de mim.

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